Primeiro restaurante da Ceagesp, batizado de “Cai Duro”, até a conquista do vale-refeição

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Por mais absurdo que possa parecer, conseguir uma refeição adequada não foi nenhum pouco fácil para os trabalhadores da maior central de abastecimento de alimentos da América Latina. Quando o ETSP começou a ser construído na década de 60, o restaurante que servia os operários foi batizado de “Cai Duro”.

Anos depois, ele foi reformado e passou a servir a famosa sopa de cebola, que virou atração gastronômica da cidade, mas, ao mesmo tempo, os funcionários da Ceagesp não recebiam qualquer auxílio alimentação. Muitos, principalmente do período noturno, chegavam a desmaiar por falta de um bom prato de comida.

A situação começou a mudar em 1985, com a organização do Sindicato e de uma cooperativa de consumo para os trabalhadores, a Abastece, que passou a administrar o restaurante. Os associados recebiam um vale impresso pela própria cooperativa e o usavam na troca por produtos da cesta básica ou por uma refeição organizada em travessas, que rebatizaram o restaurante. “A comida do Bandejão era bem caidinha”, lembrou Paulo. “Mas a gente mantinha um carinho pelo restaurante e confiança na cooperativa.” No entanto, a Abastece não sobreviveu ao Plano Cruzado.

Alguns sindicalistas atribuem a falência à má administração dos recursos, mas Alemão disse que a estratégia enterrou o projeto. “Ela se fechou para os consumidores de fora da Ceagesp. Provavelmente, se tivesse ampliado o campo de atuação, a Abastece poderia ser uma grande cooperativa.”

Quando a Abastece deixou a administração do restaurante, os trabalhadores passaram a pleitear o vale-refeição. “Pessoalmente, acho muito melhor. Cada um almoça onde quiser ou usa numa outra hora”, comentou o presidente do Sindicato. Waltinho concordou: “Na época do restaurante a gente não tinha escolha. Tinha vez que até dava pra comer ali, mas na maioria do tempo era muito ruim.”

A cada dissídio coletivo o Sindbast conseguia ampliar o benefício alimentação para os funcionários da Ceagesp. As conquistas foram além do aumento do valor de face do vale, que efetivamente garantiu uma ampla cobertura assistencial aos companheiros. Em 1988, o Sindicato conseguiu fazer a empresa distribuir os talões para os trabalhadores durante a greve e acrescentou um importante item à pauta de reivindicação.

“A gente trabalha 22 dias por mês, mas o nosso dissídio garante o fornecimento de 30 dias. É um benefício do qual não vamos abrir mão, afirmou Agnaldo. “É uma conquista memorável, das mais valiosas na minha opinião”, arrematou Paulo, que confirmou o fornecimento de mais um vale-refeição para todos os funcionários, a partir da segunda hora extra. “Eles têm que ter o direito de jantar, não é mesmo?”

Fonte: livro Todos ao Restaurante – 20 anos de Sindbast

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