Um em cada 5 atacadistas do Ceasa de SP ameaça fechar as portas neste ano

A crise financeira e a má gestão ameaçam sufocar cerca de 20% das 2.700 empresas atacadistas que abastecem o Ceasa (Centro Estadual de Abastecimento) de São Paulo. Os representantes das companhias preveem que elas podem quebrar até o fim deste ano.

O entreposto, que fica na Vila Leopoldina (zona oeste da capital), é responsável por 33% do abastecimento nacional de frutas, legumes, verduras, pescados e flores, de acordo com o Sincaesp (Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo) e com a Apesp (Associação dos Permissionários do Entreposto de São Paulo).

Para poupar custos, 20% dos permissionários do setor deixaram de vender às terças-feiras. As entidades estimam ainda que o mercado de flores, por exemplo, retraiu 30% em um ano e alguns produtores registram perdas de 60%.

Além da crise, as empresas afetadas elencam má gestão e nomeações políticas na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) -empresa vinculada ao Ministério da Agricultura- como responsáveis pelo quadro.

O valor pago pelos permissionários por aluguel e serviços como água, energia elétrica, limpeza, segurança, seguro e portaria aumentou 26,15% em janeiro deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado.

O montante rateado pelos atacadistas subiu de R$ 8,5 milhões a R$ 10,7 milhões. Um dos itens -o seguro- teve aumento de 663%, passando de R$ 11 mil para R$ 73 mil.

Além da alta dos preços, os empresários se queixam da falta de transparência nos contratos e das deficiências dos serviços prestados.

Em janeiro deste ano, foram pagos R$ 803 mil por serviços de portaria, por exemplo, mas, dos 17 portões do Ceasa SP, apenas seis funcionam para abastecimento e dois para estacionamento. Há nove portões inativos.

Além disso, um contrato de prestação de serviços de controle de circulação de veículos é alvo de inquérito criminal do Ministério Público de São Paulo.

GESTÃO LOCAL

Para tentar reverter a situação, as empresas propõem um modelo de autogestão para que elas próprias possam gerenciar os recursos.

Criaram este ano uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) para administrar o Ceasa e, agora, pressionam o Ministério da Agricultura, que teria que dar sua anuência à mudança de gestão.

A ministra da pasta, Kátia Abreu, disse ver a autogestão com bons olhos em visita ao Ceasa SP em julho de 2015.

Na conversa, ela afirmou, segundo os presentes, que o Ceasa SP está em condições precárias. De lá para cá, a ministra trocou o presidente da Ceagesp.

Um dos argumentos usados pelos permissionários para defender a autogestão é o potencial que a quebra de atacadistas tem para atingir os pequenos produtores.

A atacadista Rejane Pacheco, presidente da recém-criada Oscip AceasaSP, disse que já interrompeu o contrato com alguns produtores para cortar gastos.

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