Sociedade moderna trabalha mais que camponeses medievais, indica pesquisadora
Estudos apontam que tempo de descanso e férias é bem menor hoje em dia. Entenda! - Joseane Pereira
Qualquer um que vive no mundo moderno sabe como são longas e cansativas as horas dedicadas ao trabalho – do transporte público até as condições às quais muitos se submetem. No entanto, o que poucos desconfiam é que trabalhamos mais do que os camponeses medievais, que eram submetidos ao regime feudal.
Trabalho versus lazer
De acordo com o livro The Overworked American, escrito pela professora de sociologia Juliet Schor, da Universidade de Boston, em 1987 o norte-americano médio trabalhava cerca de 2 mil horas por ano. Enquanto isso, um camponês adulto na Inglaterra do século 13 dedicava por volta de 1.600 horas anuais ao trabalho.
Em 2017, a média de horas trabalhadas por ano desceu para 1.780 – continuando maior que a dos camponeses do passado.
Isso contradiz previsões de economistas do século 20, que afirmavam que o tempo de lazer aumentaria exponencialmente com o passar dos anos. Para John Maynard Keynes, fundador da economia moderna, até 2030 a sociedade ocidental seria suficientemente rica para que o tempo de lazer caracterizasse seu estilo de vida. Mas essa previsão está longe de se concretizar.
“Antes do capitalismo, a maioria das pessoas não trabalhava muito tempo”, afirma Schor em seu livro. “Considere um dia típico de trabalho no período medieval. Estendia-se do amanhecer ao anoitecer (dezesseis horas no verão e oito no inverno). Mas o trabalho era intermitente – interrompido no café da manhã, no almoço, no costumeiro cochilo da tarde e no jantar”.
Tais períodos de descanso eram direitos tradicionais, dos quais os trabalhadores desfrutavam mesmo nos picos de colheita. Durante essas folgas, a adesão ao trabalho não era usual – diferente de nós, que checamos e-mails, mensagens e arquivos de trabalho em nosso tempo livre.
“Tudo dito, o tempo de lazer nas férias na Inglaterra medieval ocupava provavelmente cerca de um terço do ano”, escreveu ela em seu livro. “E os ingleses aparentemente estavam trabalhando mais do que seus vizinhos. O antigo regime na França teria garantido cinquenta e dois domingos, noventa dias de descanso e trinta e oito feriados. Na Espanha, os viajantes notaram que as férias totalizavam cinco meses por ano”.
Enquanto isso, o cidadão moderno recebe a média de oito dias de férias após um ano de trabalho. E, em períodos de alto desemprego e insegurança constante, os funcionários podem não ter escolha senão aceitar as condições estabelecidas pelo empregador.
Matéria publicada originalmente no UOL.
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